passa folhas
in itself a living choreographic archive, entitled Passa Folhas. It was created by Vânia Gala in collaboration with the other artists and actions such as the School and the physicality of the garden. Passa Folhas departs from the idea of the “Creole Garden” (Glissant, 2010) as a counter-plantation practice of mutual distribution as well as multiple positionings and other alternative choreographies.
In the garden, subterranean roots interconnect, mix and help each other. As a network of practices, the performance resembles the Creole Garden in the sense that various positionings in the form of a multiplicity of practices, choreographies and modes of expression are cultivated, articulated and constantly in the making. With this what is proposed is the beginning of an alternative form of archive: a performative and olfactory archive. In Passa Folhas - a particular sense of smell present in the garden expands and spreads throughout the room. Passing here is understood as the passing of language that ‘passes but stays’, which is transmitted opaquely between bodies like invisible radio frequencies through invisible processes. We will go through sampling processes, we will rehearse ‘call and response’ practices that will take various forms (movement or textual games or making use of in-ear technology). We will investigate the upside-down positioning and a web of other forms of positioning and performances that will emerge in this context. We will rehearse these various forms of positioning in their substance but also how they operate (or not) within the movement. We investigate the passage of porosity between bodies, but also the opaque transmission of practices such as Passa Folhas. The aim is, therefore, to also investigate choreographically, speculatively the act of Passar Folhas and its performative aspects. Here, the intention is also to investigate - Passar Folhas - as a performative act that uses existing leaves in Creole gardens to ward off evil spirits. Starting from the idea of positioning as a performative act or, more mundanely, as a position assumed in, with or within bodies, performance frames questions and speculates on specific positions.
In the garden underground roots interconnect, mix and help each other. Passa Folhas emulates this idea in its multiple calls to for tending to a network of distinct practices and knowledge. It opens up the possibility of "difference without separability" (Silva, 2016), just like the position of ‘upside down’ in that it articulates within itself a relation between quite distinct forces – ‘the up’, the down’ – inseparable within the same plenum and in relation. Such cohabitation of practices calls for articulations of various orders of the visual, oral, bodily, smell, colour, tactile or even taste. But this also implies a mingling of distinct timings that cohabit side by side (extremely slow or extremely fast, historical, geological or even plant time). Both will be investigated in the bodies. As a motor for movement and in continuity with the research on the Creole Garden as an historical collective movement - the work investigates inverted positionings as forms of organizing bodies without forgetting the worlds within which these positions articulate themselves.
The upside-down positions mirror the image of the inverted world of the ancestors linked to Kalunga cosmology. Engolo or Ngolo in Kikongo (one of Angola's national languages) - the name of the martial arts typical of Angola and the African diaspora in South America - is deeply embedded and inseparable from kalunga, a cosmological view that “invokes an inverted world where the ancestors walk with their feet up” (Desch-Obi, 2008, p. 4). These cosmologies can be found in the American South in graves “often marked with iconographic representations of the kalunga with items placed upside down, in continued appreciation of the fact that the world of the dead was an inverted one” (Desch-Obi, 2008, p. 139). “Upside Down” emerges as a productive positioning in creating other possibilities, other ways of doing and being in the world, of worlding. This positioning will materialize in the paths taken in the performance space - the Palace - (using unusual existing paths as entrances) or other 'things' exposed upside down, the scores that the performers are invited to participate in, or the type of clues given between the performers.
Here, the choreographic emerges as a reflection of place and terrain. Positions are rehearsed using the form of the rehearsal revealing instructions and directions. Passa Folhas does this through the flow of instructions transmitted via an in-ear system between choreographer and performers, sometimes revealing them to the audience. It shows, it hides, it camouflages itself: the four performers, the choreographer, the sound manipulator. The choreographic is assumed as a place for the manifestation of opaque, even subterranean - and often indecipherable – practices, or in specific enunciations may encourage other possible collective futures.
No jardim, as raízes subterrâneas interligam-se, misturam-se e entre- ajudam-se. Como rede de práticas, a performance assemelha-se ao jardim no sentido de que vários posicionamentos na forma de uma multiplicidade de práticas, coreografias e modos de expressão são cultivados, articulados e em constante formação. Com isto, propõe-se o início de outra forma alternativa de arquivo colectivo: um arquivo performativo e olfativo. – Em Passa Folhas - um olfato particular pre- sente no jardim amplia-se distribuindo-se pela sala. Passar aqui entende-se como o passar de passagem de linguagem que ‘passa mas fica’, que se transmite opacamente entre corpos como as frequên- cias de rádio invisíveis por processos invisíveis. Passaremos por processos de sampling, ensaiaremos práticas de call and response que se desenvolverão em várias formas (jogos de movimento, textuais ou fazendo uso de tecnologia in-ear), investigaremos o posicionamento particular de cabeça para baixo e de uma teia de outros posiciona- mentos e performances que surgirão neste contexto. Ensair-se-á em conjunto esses vários posicionamentos na sua materialidade mas também na sua operacionalidade (ou não) no movimento. Investiga-se o passar da porosidade entre corpos, mas também da transmissão opaca de práticas como o passa folhas. Pretende-se, pois, investigar também coreograficamente, especulativamente o acto de passar folhas e os seus aspectos performativos. Aqui a intenção é também investigar mesmo o passar folhas como acto performativo que usa folhas existentes nos jardins crioulos para afastar maus espíritos. Partindo da ideia de posicionamento enquanto ato performativo ou, mais mundanamente, enquanto posição assumida em, com ou dentro de corpos, a perfor-mance enquadra questionamentos e especula sobre posicionamentos específicos.
No jardim, as raízes subterrâneas interligam-se, misturam-se e entre- ajudam-se. Passa Folhas emula essa ideia nos seus múltiplos apelos ao atendimento de uma rede de práticas e saberes distintos. Abre a possibilidade de “diferença sem separabilidade” (SILVA, 2016), tal como a posição de ‘de cabeça para baixo’ na medida em que articula em si uma relação entre ideias de forças bastante distintas – ‘o para cima’, ‘o para baixo’ – inseparáveis dentro do mesmo plenário e em relação. A ideia da diferença através da troca sem perder-se. Tal coabitação de práticas exige articulações de diversas ordens do visual, oral, corporal, olfativo, colorido, tátil ou mesmo gustativa. Mas isto também implica uma mistura de tempos distintos que coabitam lado a lado (extremamente lento ou extrema- mente rápido, o tempo histórico, geológico ou das mesmas plantas). Ambos serão investigados nos corpos. Desta vez, como motor do movimento / ação e na continuidade nesta pesquisa sobre o Jardim Crioulo também enquanto movimento histórico e coletivo em si e o gesto que ele incorpora), a performance aborda posicionamentos invertidos como forma de organização de corpos sem esquecer os mundos com o qual estes se articulam.
As posições de cabeça para baixo ou de pernas para o ar simulam a imagem de um mundo investido dos ancestrais ligados à cosmologia Kalunga. Engolo ou Ngolo em Kikongo (uma das línguas nacionais de Angola) - nome específico das artes marciais existentes em Angola e na diáspora africana na América do Sul - está profundamente enraizado e é inseparável da kalunga, uma visão cosmológica que “invoca um mundo invertido onde os ancestrais andam com os pés para cima. Essas cosmologias podem ser encontradas no Sul dos Estados Unidos em sepulturas “muitas vezes marcadas com representações iconográficas da Kalunga com itens colocados de cabeça para baixo, em contínua apreciação do facto de que o mundo dos mortos era invertido” (Desch -Obi, 2008, p. 139). ‘De cabeça para baixo’ surge como um posicionamento produtivo na criação de outras possibilidades, outras formas de fazer e estar no mundo. Este posicionamento materializar-se-á nos caminhos percorridos no espaço performativo – o Palácio - (usando caminhos inusitados existentes como entradas) ou de outras 'coisas' expostas de cabeça para baixo, as partituras que os performers são convidados a participar, ou o tipo de pistas dadas entre os performers.
Aqui emerge uma reflexão sobre o coreográfico como lugar e terreno. Ensaiam-se posicionamentos usando a forma do ensaio revelando as indicações.
Passa Folhas fá-lo através do fluxo de instruções transmitido por sistema in-ear entre coreógrafa e intérpretes, revelando-as por vezes ao público. Mostra-se, oculta-se, camufla-se: os quatro intérpretes, os artistas, o manipulador de som. Assume-se o coreográfico como lugar de manifestação de práticas opacas mesmo subterrâneas - e frequentemente indecifráveis - ou em enunciações específicas que podem constituir um convite para outras possíveis futuridades coletivas.
20.04 - 24.11.2024
Vânia Gala
Choreographer
Teresa Noronha Feio
Direction Assistance
Gio Lourenço, Luiza Vilaça, Emília Ferreira, Mavá José
Performers
20 April, from 11:30 am to 12:30 pm
23 November, from 4 to 5 pm
24 November, from 4 to 5 pm
@ Palazzo Franchetti
Vânia Gala
Coreógrafa
Teresa Noronha Feio
Assistência de direção
Gio Lourenço, Luiza Vilaça, Emília Ferreira, Mavá José
Intérpretes
20 de abril, das 11h30 às 12h30
23 de novembro, das 16h00 às 17h00
24 de novembro, das 16h00 às 17h00
@ Palazzo Franchetti